Nota Técnica Sobre o Laudo do Hotel Palace

O Laudo recentemente concluído pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA/SE) trouxe como decisão final que a estrutura necessita ser demolida. Em face da importância dessa decisão e as consequências que ela acarreta, a mesma deve ser feita com forte fundamentação científica e tecnológica. Apenas um exame visual não oferece a perícia necessária para a correta estimativa das consequências do dano. Do contrário, é estritamente requerido e recomendado:

1 – A participação de uma equipe multidisciplinar envolvendo Engenharia Civil, Elétrica, Mecânica, de Materiais, dentre outros;

2 – A realização de ensaios para caracterização físico-química dos elementos constituintes, visando também a determinação da capacidade residual resistente;

3 – Tratamento dos dados de forma estatística e probabilística, envolvendo a complexidade dos sistemas tais como condições climáticas, mecânicas, dentre outras.

Em verdade, é de conhecimento acadêmico que a Engenharia dispõe hoje de técnicas de recuperação e reforço de estruturas que inclusive estão também disponíveis no estado de Sergipe. Assim, somente após um estudo e análise aprofundados da edificação permitirá fornecer um diagnóstico preciso e a consequente terapia, indicando se existe ou não de fato uma técnica para recuperação e/ou reforço da estrutura.

É correto asseverar que a estrutura possa ser recuperada, pelo menos tecnicamente falando, mas pode não ser economicamente viável a sua recuperação, e então dessa forma poderia se optar pela demolição. Entretanto, ainda que esse fosse o caso, caberia também uma análise econômica ampla e aprofundada com intuito de identificar possíveis alternativas, como, por exemplo:

1 – Demolição parcial da estrutura, mantendo a área do comércio e transformando o mezanino em um estacionamento (público ou privado) e realizando, dessa forma, a recuperação ou reforço apenas na estrutura mantida, o que poderia tornar economicamente viável;

2 – Estudo por parte do Banco do Estado de Sergipe (BANESE) para ampliação de suas instalações, uma vez que o edifício em questão fica ao lado do edifício do BANESE. Dessa forma, após a conclusão das análises e tendo em mãos os valores necessários para a possível recuperação, os mesmos poderiam ser dispensados pela instituição financeira acaso o estudo econômico apontasse viabilidade e retorno futuro do investimento.

Assim sendo, conclui-se que o CREA/SE, entidade que dispõe de recursos financeiros e materiais para tal, deve realizar uma perícia de forma aprofundada e amplamente fundamentada, através de ensaios, estudos tecnológicos e científicos para depois então chegar em uma conclusão a respeito das condições da estrutura e sobre a sua viabilidade técnica e financeira para a recuperação ou reparação da mesma. Mais uma vez, ressalta-se que o estado de Sergipe (inclusive na Universidade Federal de Sergipe) dispõe desses recursos tecnológicos que permitem a realização de uma perícia mais aprofundada, feita por profissionais multidisciplinares e especializados, tal qual como uma perícia deve ser.

Os tópicos acima expostos são relativos essencialmente à estrutura do edifício em questão. Quanto aos demais sistemas (instalações elétricas, hidráulicas, etc) devem ter seus riscos eminentes sanados, como também a indicação adequada dos procedimentos de manutenção a serem realizados, visando evitar o surgimento de problemas futuros, como incêndio, vazamentos, e destacamento na fachada, dentre outros.

Engª Civil Ana Castorina Ferreira Figueiredo
Presidente do IBAPE/SE